Hoje tenho para vos dar a notícia da criação da versão on-line do Clube dos Leitores, o clube de leitura dinamizado pela biblioteca. Como sei que há alunos que até gostariam de participar mas que, por incompatibilidade horários, desistiram de o fazer para poderem estar presentes noutros clubes, decidi permitir a esses alunos que participassem, enviando os seus comentários por e-mail. Foi assim que surgiu a ideia de "abrir as portas" do clube através da Web. Espero, desta forma, angariar mais membros, que podem sugerir leituras interessantes, as quais serão comentadas por todos nas sessões, ou através da publicação de mensagens.
Mudando de assunto, aqui fica mais uma história, A história dos homenzinhos de patins, de Sophie Carquain.
A HISTÓRIA DOS HOMENZINHOS DE PATINS
Era uma vez um planeta onde se nascia, vivia e morria
sobre patins. Também se viajava, namorava e trabalhava sobre patins. O seu uso
era obrigatório porque caminhar era um processo muito lento e tomava muito
tempo. Alguns habitantes nem sequer tiravam os seus pés rolantes para dormir.
Nunca ninguém chegava atrasado ao emprego ou às aulas.
Só se falava o estritamente necessário, porque até as sílabas eram
contabilizadas. Todas as atividades suscetíveis de nos fazer perder segundos
preciosos eram proibidas: falar da chuva e do bom tempo, comprar bombons,
arrastar-se, de manhã, por casa, em peúgas, dançar o tango, ou ter bebés. Um
bebé exige tempo e isso faz com que nos tornemos menos eficazes.
Mas porque corriam as pessoas assim?
Porque no planeta ao lado viviam uns seres cinzentos e
tristes, que tinham decidido fazer das pessoas cavalos de corrida. Para isso,
tinham-nas transformado em seres que apenas viviam para a velocidade e para o
stress. Esses seres faziam apostas e lançavam na lixeira intersideral as
pessoas que perdessem a corrida. As pessoas não passavam de escravas…
O corpo humano não consegue viver a 500 quilómetros à
hora e, assim, as pessoas passaram a sofrer de várias doenças, a mais
catastrófica das quais era a das fraturas do crânio. Sempre que uma criança
caía, o seu cérebro começava a encolher até ficar do tamanho de uma ervilha.
Como estas fraturas eram cada vez mais frequentes, as pessoas ficavam cada vez
menos inteligentes. Por isso, ninguém tivera ainda a ideia de inventar um
capacete para proteger a cabeça.
Mas os seres cinzentos e tristes estavam a ficar sem
escravos e decidiram, então, inventar eles mesmos o capacete e tornar o seu uso
obrigatório. Como as pessoas tinham o cérebro protegido, podiam utilizá-lo para
pensar. Por exemplo, para pensar por que razão haviam de andar tão depressa.
Então, pouco a pouco, começaram a reduzir o ritmo da
sua vida e a dar-se conta que correr não serve de nada. Que isso apenas as
escravizava mais em relação ao povo dos seres tristes e cinzentos. Passaram,
então, a brincar, a conversar, a jogar, a fazer amigos, sem medo de que isso
lhes fizesse mal. E nem viam o tempo passar…
Todos se inscreviam em cursos de dança, assistiam ao
pôr-do-sol, davam longos passeios pela floresta. A transformação ainda demorou
algum tempo. Mas as dores de barriga e de cabeça desapareceram. E começaram de novo a
nascer bebés…
Sophie Carquain
Petites histoires pour devenir
grand (2)
Paris, Albin Michel, 2005
(Tradução e adaptação)
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